Engarrafamento. Carros lentos na rua. O ônibus passa devagar. Chuva forte. Vidros embaçados. Apesar disso, dá pra ver o que se passa do lado de fora. Aliás, o lado de fora do ônibus, como na maioria das vezes, estava mais interessante do que dentro dele. De dentro, rostos apáticos da rotina diária, de uma conformidade da realidade que se apresenta.
A chuva caía insistentemente sem parar. O barulho gostoso dela batendo no chão. Clima frio. Céu nublado. A vontade era de ficar na cama e ver um bom filme a dois debaixo do cobertor. Mas a realidade da vida me puxa e dá um tapa na cara. Acorda!
No entanto, algo chama atenção lá fora. Era uma moça. Devia ter seus 16 anos, mas a aparência de uma menina. Corria da chuva nas calçadas para não se molhar mais. Mas por que não parou em algum lugar coberto? Devia estar próxima, creio eu, do lugar onde queria chegar.
Corria no mesmo percurso do ônibus. E do lado de dentro eu a acompanhava. Correu tanto até que desistiu pela falta de fôlego e ao ver que a chuva não cessava. Desistiu de lutar contra a chuva e se entregou a ela. Passou a andar lentamentemente como se nada estivesse ocontecendo, ou como um dia qualquer. Devia ser, para ela.
Tinha cabelo castanho claro, ondulado, dividido ao meio e comprido, quase na altura da cintura. Vestia um vestido floral e sandálias de couro. Parecia uma camponesa. E carregava cadernos nos braços. Estava toda encharcada da chuva. E os cabelos pingavam, grudados no rosto e no corpo.
Andava na forma de uma pessoa que não tem pressa da vida. Um andar leve, escorregadio. A chuva deslizava com ela pela calçada, como se ela fizesse parte da chuva. Como se a chuva fosse sua companheira. Era a menina da chuva.
Aquela tranquilidade e paz ao se entregar a chuva, a não se abalar pelo fato de estar toda molhada, sem receio ou preocupação de pegar um resfriado, adoecer ou de ter que se enxugar e mudar de roupa, me incomodou.
Na verdade, ela não podia mudar aquilo e aceitou a situação. Atitude essa que, nem todos aceitam uma situação inesperada, e lutam contra a natureza das coisas, impondo o que se quer ou necessita, por vários motivos. Porque não quer se deixar molhar, por medo de adoecer, porque tem compromisso de trabalho, estudos ou qualquer outro motivo.
Não sei se as outras pessoas no ônibus ou na rua a enxergaram como eu. Ou se a enxergaram. Provavelmente, ela passou desperebida. Se alguém a notou também, duvido que tenha sentido inveja dela.
O fato é que, ela se permitiu a isso. E isso não a icomodava. Pelo contrário, no rosto, a expressão era de leveza, sem preocupações. E não devia ter mesmo, pela flor da idade. Ou talvez não permitiu que as mesmas a tomassem conta. Preocupações que nos sugam, tiram nossa força e nos cegam de ver a beleza dos pequenos gestos como esse.
Me incomodou não porque achei errado, mas porque eu tive inveja de sentir aquilo. Uma saudade de me deixar encharcar pela chuva, e a sensação gostosa que ela provoca batendo no rosto. Do cheiro que fica na terra. De me divertir, rindo sozinha de mim mesma. E de me deixar levar por ela sem medos e preocupações.
Para a menina da chuva, aquele, era um dia qualquer. Para mim, não.
A chuva caía insistentemente sem parar. O barulho gostoso dela batendo no chão. Clima frio. Céu nublado. A vontade era de ficar na cama e ver um bom filme a dois debaixo do cobertor. Mas a realidade da vida me puxa e dá um tapa na cara. Acorda!
No entanto, algo chama atenção lá fora. Era uma moça. Devia ter seus 16 anos, mas a aparência de uma menina. Corria da chuva nas calçadas para não se molhar mais. Mas por que não parou em algum lugar coberto? Devia estar próxima, creio eu, do lugar onde queria chegar.
Corria no mesmo percurso do ônibus. E do lado de dentro eu a acompanhava. Correu tanto até que desistiu pela falta de fôlego e ao ver que a chuva não cessava. Desistiu de lutar contra a chuva e se entregou a ela. Passou a andar lentamentemente como se nada estivesse ocontecendo, ou como um dia qualquer. Devia ser, para ela.
Tinha cabelo castanho claro, ondulado, dividido ao meio e comprido, quase na altura da cintura. Vestia um vestido floral e sandálias de couro. Parecia uma camponesa. E carregava cadernos nos braços. Estava toda encharcada da chuva. E os cabelos pingavam, grudados no rosto e no corpo.
Andava na forma de uma pessoa que não tem pressa da vida. Um andar leve, escorregadio. A chuva deslizava com ela pela calçada, como se ela fizesse parte da chuva. Como se a chuva fosse sua companheira. Era a menina da chuva.
Aquela tranquilidade e paz ao se entregar a chuva, a não se abalar pelo fato de estar toda molhada, sem receio ou preocupação de pegar um resfriado, adoecer ou de ter que se enxugar e mudar de roupa, me incomodou.
Na verdade, ela não podia mudar aquilo e aceitou a situação. Atitude essa que, nem todos aceitam uma situação inesperada, e lutam contra a natureza das coisas, impondo o que se quer ou necessita, por vários motivos. Porque não quer se deixar molhar, por medo de adoecer, porque tem compromisso de trabalho, estudos ou qualquer outro motivo.
Não sei se as outras pessoas no ônibus ou na rua a enxergaram como eu. Ou se a enxergaram. Provavelmente, ela passou desperebida. Se alguém a notou também, duvido que tenha sentido inveja dela.
O fato é que, ela se permitiu a isso. E isso não a icomodava. Pelo contrário, no rosto, a expressão era de leveza, sem preocupações. E não devia ter mesmo, pela flor da idade. Ou talvez não permitiu que as mesmas a tomassem conta. Preocupações que nos sugam, tiram nossa força e nos cegam de ver a beleza dos pequenos gestos como esse.
Me incomodou não porque achei errado, mas porque eu tive inveja de sentir aquilo. Uma saudade de me deixar encharcar pela chuva, e a sensação gostosa que ela provoca batendo no rosto. Do cheiro que fica na terra. De me divertir, rindo sozinha de mim mesma. E de me deixar levar por ela sem medos e preocupações.
Para a menina da chuva, aquele, era um dia qualquer. Para mim, não.
5 comentários:
Bonito texto nega. Agora eu enxergo essa atitude dela de duas formas: Uma que ela se entregou, como você mesmo disse por perder as forças. E nesse caso, acho que o se entregar e se permitir tornam-se contrários. Pois aparentemente a intenção dela não era parar, e sim continuar... e não foi possível, e ela se entregou, não devendo se entregar, e sim continuar. Quanto ao permiti-se geralmente vem de nós, para algo que até então é um bloqueio. Mas, enfim, acho que nessa hora a chuva foi a adversária, e ela perdeu. O conformar com a situação só vale a pena quando é pro bem da gente. E pro nosso bem, deveremos sempre correr, correr, correr e adquirir folego. E somos nós que escolhemos qual a chuva que deveremos nos entregar e nos permitir. Beijo enorme.
É..nesse sentido..vc está certa!
Outro super beijo
Na verdade, a intenção não era mostrar que a chuva "ganhou" dela, apesar de ter ganhado. Mas sim dela se permitir algo que ela não esperava. Ela escolheu se permitir porque cansou de correr, porque se deixou levar e porque quis. De outra forma, ela poderia ter corrido mais ou se protegido numa cobertura. Realmente, devemos escolher qual chuva. Mas também é bom se deixar levar por ela sem pensar em "perdas" ou "ganhos". Somente se deixar levar pela chuva pra quem tá de peito aberto e nem sempre estamos. Depende do momento de cada um..
Mas a idéia era se deixar levar pela chuva e só.
Somente isso.
Neiloca,
gostei do texto, muito bonito. ontem só não virei a menina da chuva porque tinha um filme no cine me esperando e certamente griparia... aqui o pessoal é meio estressado com chuva... ontem o tempo tava nubladíssimo, um sujeito bateu num carro parado, saiu do carro e ainda espancou o outro motorista. você crê nisso? só tem louco. :)
lindona,
estou tentando fazer meu blog...
te add
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