27 de março de 2008

Bem-te-vi



Todo dia
da janela no parapeito
canta um bem-te-vi

No dia que ele não canta
aperta no meu peito
a falta que nunca senti.

É um novo dia

Sabe aquele dia em que você não aguenta o turbilhão de emoções que sente e que tudo vai desabar e desaba? E acha que tudo que você tem a fazer ou permanecer inerte vai dar errado? Não quero fazer relação com a sensibilidade nos dias de tpm, ou a sensação clariciniana de ser. Não é.

É um dia daqueles em que através das sensações, mesmo um pouco confusas no ínicio, e ao decorrer do desabafo delas por meio da fala junto ao choro, você tem um estalo e enxerga tudo tão claro como água, mesmo sabendo que pode não adiantar nada, e a vontade é simplesmente de botar pra fora tudo que se sente.

E é aí que vem a surpresa. Tudo passa. O tempo muda. O vento carrega as nuvens no céu. O pranto da noite desagua no mar e dá vez a luz do sorriso como o sol que nasce pela manhã. É um novo dia raiando..

26 de março de 2008

Grand Chase

Um aluno pra outro colega:
_ Vamos jogar Grand Chase! É melhor, é do meu tempo..de 2005.
Isso foi uma criança de 10 anos. Falava como se fosse há muito tempo..
Engraçado como a noção de tempo é tão rápido para eles..

25 de março de 2008

Para saldar a Yemanjá


À Gica

Pés firmes
na beira do mar
para saldar
a Yemanjá.

Rosas brancas e vermelhas
vestido e sapato também.
Uma flor saudando à rainha
uma orixá à outra também.

Com todo respeito
de Iansã a Yemanjá.
Peço no peito
que a fé não costuma falhar.

Que traga prosperidade, paz e amor
através do canto, prece e louvor.

aí estão
pontas do pés
ao chão

querendo voar
para alcançar
o amor

21 de março de 2008

Queda

Estava tomando banho, toda ensaboada, e de repente..isplaftibum! Tomei um quedão no chão. E cái feito uma jaca hahahaha! O barulho foi tão alto do pé batendo na porta do box que parecia um trovão. Juro! Alguém falou da sala: _ Fechem as janelas que está trovejando.
Rapaz, eu ria de ouvir aquilo, da queda e ao mesmo tempo queria chorar da dor que sentia. O pior é que não tinha nem força pra falar: _ Fui eu!

Era uma vez na páscoa

Jenilson, era um menino só, não tinha ninguém, nem família. Vivia na rua e dormia em praças. Seus amigos eram os pombos. Só neles podia confiar, contar seus segredos e seus sonhos. Não era como os outros. Esperto, sempre atento ao que acontecia ao seu redor. Se livrava de emboscada dos outros meninos "companheiros" de rua. Uma esperteza de quem só vive como ele sabe como é. E uma doçura de quem almeja o quase impossível.

Apesar do triste olhar, enxergava beleza na vida e se divertia com as poças d'água da chuva. Ao ver outras crianças passarem com seus ovos de páscoa, suas famílias "perfeitas", bem vestidas e de quatro portas; Jenilson parava. Seu olhar se perdia no tempo, como quem desejava aquilo também. Ele desejava. Ele merecia. E ele precisava. Apesar da falta de tantas coisas, e da negligência de todos, Jenilson ainda tinha fome de vida. E ficava a se divertir com seus amigos pombos, criando estórias e pintando seus ovos com as cores da "sua" rua.

19 de março de 2008

Tempo de chuva



pingo pingando
chuva nascendo

tempo de chuva
de ibernar
de acolher

descansar
e esperar
tempo bom aparecer

Amo isso

Adoro quando meus alunos descobrem algo novo ou fazem algo e querem me mostrar. Quando eles me chamam: _ Pró ó!
E abrem aquele sorriso lindo de criança, de quem está desbravando o mundo. Fico mais boba do que qualquer um deles. Minha felicidade é tanta, que parece que vou explodir e virar milhões de pedacinhos soltos pelo ar.

Sinto tanto quanto eles, ou até mais. Me sinto lisonjeada também e com uma grande responsabilidade por saber que abrem suas vidas e me permitem entrar assim, de graça.
Estar ao lado delas, é nunca perder a alegria de ver os bichinhos voadores que aparecem quando o tempo esfria e cai a chuva. Ou com um lindo sol, uma borboletinha amarela que aparece por acaso na planta do jardim ou quando pousa em alguém; e a gente voa tentando alcançá-los.

A cada dia, meu dia se renova através dos seus olhares.
E a cada dia, é um renascer do meu lado criança.
Amo muito isso e não há preço que pague essa sensação.

Chuva cai



cai chuva
chuáááááá

lava a alma
das infelicidades

e lava o corpo
das enfermidades

chuva cai
chu-va cai
c-h-u-v-a
c-a-i
ca..
ai..

Fora uns dias

Após alguns dias fora, estou de volta com novidades, novas impressões, sensações e novo olhar sobre o que vi e o que vejo aqui. Estive em Natal. Sinceramente, a vontade era ficar e não mais voltar. Os motivos, conto mais adiante posteriormente. E ao ver a cidade ficar toda alagada por causa de uma chuvinha besta, só aumenta a minha vontade dita anteriormente.

6 de março de 2008

5 de março de 2008

Energia do Creu

A proposta da minha turma da 4ª série seria criar um blog sobre "Energia e suas transformações".
Eu: _ vamos pensar numa música pra colocar no nosso blog galera?
Aluna: _ vamos colocar "Creu"
Eu: _ mas o que é que creu tem a ver com energia?
Aluna: _ ah! pró, só a energia que o MC leva pra cantar e a dançarina pra dançar o creu tem a ver sim.
E eu fiquei sem resposta. É..tem sentido..

Carta de uma amiga

Talvez não coubesse, mas resolvi publicar aqui as palavras de uma amiga por elas terem me feito tão bem num período da minha vida, por agradecimento e homenagem a essa pessoa especial.

Oi Neila,


Amei a sua escrita, permeada por sentimentos e desabafos. Desabafo de vida e não de piedade. Representa a sua força. Esta força que todos nós temos, mas que descobrimos a cada dia, a cada passo, a cada etapa da vida, a cada desilusão e dificuldade. Enfim, aprendemos a cada desafio que a vida nos propõe para nos possibilitar a revisão de nossas condutas, nossos valores e sentimentos.

Sinto que você hoje está aspirando a força da vida pulsando, te chamando e te convidando a seguir de cabeça erguida, não como uma super-mulher sem defeitos e fraquezas, mas como alguém que femininamente sente, sorri, se indigna, que muitas vezes se sente frágil, se manisfesta e, sobretudo, vive!!!

Essa é a essência de estar construindo a nossa própria jornada com autonomia, fé, garra e perseverança, mas recheada de sensibilidade, afeto e gratidão.

Gosto de te ver assim. Continue, pois isto é descobrir e realimentar a tua identidade singular, que não deve ser imposta, e sim revalidada a cada passo; que não deve ser aplaudida e sim respeitada.

É por conta da tua sinceridade e sensibilidade, com alma limpa e cristalina, que temos tanto orgulho de te ter como amiga.

Um grande abraço emocionado e emocionante,
Cilene

Uma comparação entre o Contato Improvisação e as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação: um universo de possibilidades

Assim que iniciei a prática do Contato Improvisação, conseqüentemente, comecei a fazer relações da dança com a vida, minha vida especificamente; desenvolvendo uma consciência psicológica, emocional, física e corporal do meu "estar" no mundo. A forma de relacionamento comigo mesma, com o outro, e com tudo à minha volta. Comecei a criar relações espaciais entre mim e os objetos. Enxergá-los de modo diferente, brincar com eles. Observar as pessoas levemente, com um olhar de criança quando conhece algo novo.

Além disso, teci relações até com o meu universo de trabalho, comparando a dança com a minha profissão. Como pedagoga; estudo, pesquiso e trabalho a inter-relação entre educação, comunicação e tecnologias contemporâneas. Referindo-se a pedagogia crítica, uma proposta pedagógica atual está centrada no aluno, no seu processo cognitivo de aprendizagem, e não mais no professor como detentor do “saber”. Paulo Freire [1] propondo a Pedagogia da Libertação, critica essa concepção denominando-a de “educação bancária”, onde o aluno está definido como um ser que não sabe nada, uma “tábula rasa”, e o professor ao ensinar, estaria depositando o conhecimento para esse ser passivo. Para ele, uma atitude pedagógica crítica está contextualizada com o universo do aluno, sua realidade social, respeitando suas potencialidades e proporcionando possibilidades em que ele possa desenvolver-se com autonomia, ou seja, um sujeito ativo, crítico e consciente do seu papel no mundo.

Atualmente, com o advento das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) à educação; no universo da cibercultura, todos são seres potenciais, em potencialidade. Nessa perspectiva, qualquer pessoa tem capacidade de produzir o conhecimento, de ser emissor e receptor ao mesmo tempo. Com isso, o professor deixa de ser o centro do “saber”, mas um mediador nesse processo, orientando e permeando relações interdisciplinares para que o “aprendente” construa seu próprio caminho do conhecimento.

Autores como Pierre Lèvy [2] e Marco Silva [3] definem características de organização da informação no espaço virtual. Dentre elas estão: hipertextualidade, interatividade, metamorfose, heterogeneidade, mobilidade de centros, exterioridade, multiplicidade de encaixes, topologia, dentre outros elementos.

A hipertextualidade, como o próprio conceito já traz, é um grande texto na rede virtual. Um conjunto de nós que se interligam em que a pessoa vai construindo seu caminho de forma não-linear, sem ter um fim definido.

“O hipertexto é a quebra de uma cultura linear que impunha apenas um único ponto de vista, é a quebra dos monologismos e a possibilidade de construção de uma relação polifônica, na qual diversos protagonistas tem a oportunidade de expressar o seu ponto de vista. O hipertexto é uma grande teia de relações no qual qualquer ponto, é um possível início em um grande caminho cheio de possibilidades de escolhas, no qual você pode ter acesso a um universo de possibilidades, não só textuais como em outras formas e expressões”. (P.P.A)

A interatividade, não é somente a relação do homem com a máquina, mas a dinâmica do processo entre ele e outros. É a possibilidade que todos tem de construir e modificar o que está exposto, dando acessibilidade para que outros possam vê-lo e reconstruí-lo na internet.

“Na era da interatividade ocorre a transição da lógica da distribuição (transmissão) para a lógica da comunicação (interatividade). Isto significa modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor.O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente, uma mensagem fechada, ele oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor. A mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, ela é um mundo aberto, modificável na medida que responde às solicitações daquele que a consulta. O receptor não está mais em posição de recepção clássica, ele é convidado à livre criação e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção." (SILVA, Marco)

O princípio da metamorfose explicita a idéia de que essa rede de significações que constitui o conhecimento está em constante transformação. A heterogeneidade se caracteriza pela diversidade de pessoas envolvidas nesse processo quanto as formas de linguagens, podendo estar dispostas em palavras, sons, imagens, em diversos modelos e multimídias. A mobilidade de centros é a dinâmica da informação. Ela não se encontra centralizada, mas ramificada em nós que vão construindo outros mapas e paisagens. A exterioridade significa que a rede não tem um motor interno, mas ela cresce dependente do ato externo, na adição de novos elementos que irão alimentá-la. A multiplicidade de encaixes são os nós e conexões que ligam uma rede entre si e a outras, formando pontes de informações, criando mobilidade e possibilidade de ir e voltar, ou continuar tecendo outros nós. A topologia são os caminhos que ligam as informações, os links que levam um caminho a outro.

O contato improvisação se caracteriza pelos mesmos elementos que definem o universo da cibercultura. Ele é hipertextual porque possui um universo de possibilidades a qualquer movimento que poderá surgir. Interativo na relação com o outro, sendo que qualquer um dos praticantes pode ser o emissor da mensagem, o receptor ou ambos. A metamorfose se materializa pela transformação constante dos movimentos da dança. A heterogeneidade é a diversidade de pessoas envolvidas, os universos particulares de cada um que formam um todo, os ritmos diferentes e os corpos diferentes. A mobilidade de centros mostra que a cada momento, o ponto (centro) de equilíbrio pode ser mudado de um para o outro praticante constantemente. A exterioridade se concretiza pela beleza da dança a cada movimento que vai sendo adicionado ao ato. A multiplicidade de encaixes são as possibilidades da prática em conjunto, podendo ser praticado entre mais de duas pessoas. A topologia é navegabilidade, a troca de pares, os caminhos que levam um ao outro.

Agora porquê trouxe essas definições para comparar o Contato Improvisação à NTIC`s? Na tentativa de poder embasar teoricamente que esses princípios acadêmicos podem ser intencionalmente associados à prática do contato improvisação. O ato de praticar o contato improvisação está imbuído de uma atitude pedagógica, pelo universo de possibilidades, de criatividade, de diversidade, de conceitos indefinidos, de não modelagem mas de improvisos, possibilitando a autonomia do praticante, e acima de tudo, democrático, pois todos os envolvidos estão posicionados em igualdade.



[1] Educador, criou o método de alfabetização de “leitura do mundo” e escrita contextualizada, com o intuito de conscientizar e capacitar o oprimido para a libertação, sendo referência na educação de jovens e adultos. Autor de Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança, A importância do ato de ler, Educação como prática da liberdade, Pedagogia da Autonomia: saberes necessários á prática educativa, entre outros.

[2] Filósofo e referência mundial no que diz respeito a relação entre educação e as novas tecnologias da informação e comunicação. Autor de “ As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática”, “A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço”, entre outros.

[3] Sociólogo, professor da UERJ e UNESA. Autor de “Sala de aula interativa”, “Educação online” e “Avaliação online”.